sexta-feira, 25 de junho de 2010

O astrônomo

No início era apenas um céu estrelado para ser por ele estudado, estrela após estrela, todas iguais. Foi quando na constelação mais longicua, mais inóspita e sombria, ele a encontrou. Era simples, comum, mas algo chamava a atenção dele para a retraída estrela. Passou a somente estuda-la, queria entendê-la, começava a ficar obcecado e a cada noite ela o intrigava mais e mais. Em tão, sua luz começou a se espalhar com tamanha intensidade que era impossível ser real em sua concepção. Ate que finalmente descobriu o que á diferenciava: ela tinha um dom. O dom de aumentar seu brilho, de concentrar e dispersar sua luminosidade que o resto passava a ser apenas isso, “o resto”.
Ele realmente ficava obcecado com aquilo. Já não dormia, já não comia, só queria enxergar a beleza que alcançava seus olhos entorpecidos.
O fulgor, assim como chamas, não era por completo inocente e já começava a queimar. Tudo a sua volta entrava em combustão sem que ele pudesse perceber já que estava cada vez mais limitado ao que lhe fascinava. E a aparente claridade aumentava e aumentava até que chegou ao intenso ponto de se tornar um clarão que o cegava, embora momentaneamente.
Ficou desesperado. Como poderia viver sem seu ponto único e iluminado no céu? Mas a estrela ainda estava lá e agora não somente queimava ao seu redor como também derretia sua pele em manchas de uma veemente lesão por queima do mais alto grau. A dor era imensa e como reflexo, fugiu. Abaixou-se e observou apenas o chão ate que sua visão, turva, voltasse. Não queria voltar a enxergar, mas voltou embora ainda confuso. Após tempos, não queria mais se queimar, não queria mais estar privado de sua visão, por isso hesitava em olhar ao céu. Queria esquecer a antiga estrela, por mais que ela brilhasse.

Com olhar ainda embaçado, procurava fugir de seu fascínio, de seu vicio que, assim como drogas que são nocivas ao corpo, aquilo era nocivo a sua mente. Já alucinava, duvidava de sua própria sanidade mental por não ter sua dose da querida e facínora estrela.
Porém percebeu que agora, algo o envolvia algo o protegia e lhe ajudava a cicatrizar as feridas que nele haviam deixado. Finalmente, voltou a observar o céu à procura do que o protegia, quando percebeu aquele simplório foco de luz imerso a constelações mutuadas de outras estrelas e planetas sem nenhum valor. Apesar de pequena e escondida, era ela quem o protegia com essa aparência delicada e frágil.
Como tal astro, mesmo que tão crédulo e eclesiástico, era capaz de lançar tamanha aura protetora? A resposta era evidente. Um pequeno laço de amor é o suficiente para a maior das redenções.
Mas que surpresa. Seu mundo havia acabado de se desmantelar. Não fora capaz de perceber o que estava explicito a sua frente. Agora, ele se sentia leigo e laico.
Essa nova estrela que era seu verdadeiro fascínio e dessa vez, a fixação era recíproca, já que ao mesmo tempo em que reformulava tudo o que sabia e sentia, ela o envolvia por calmos ares, ao invés de feri-lo como um alvo fácil a um tiroteio. As cicatrizes ainda existiam, mas perdiam atenção para o coração que vibrava à nova prospera e benéfica luz que o revivia e animava.


Por Pedro Nunes Rodrigues

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