sábado, 5 de fevereiro de 2011

Roleta russa

Uma sala de madeira, talvez carvalho, um estofado velho, porém, elegante, cores escuras e apenas uma lâmpada acesa iluminando tudo com sua fraca luz. Só uma janela era visível mais fechada e com suas cortinas estendidas ao máximo que lhes era possível, como quem estivesse ali dentro não quisesse mais a luz, e só a escuridão o lembrava que algo ainda podia ser real. Uma mesa de madeira e uma cadeira se encontravam ao canto sul, em frente a uma porta dupla fechada a chave ao lado norte da sala. Quadros elegantes estendidos ao logo das paredes, provavelmente comprados em leilões por partes diversas do mundo. O silêncio reinava, exceto por a quase inaudível voz dele ao telefone, tentando sufocada e desesperadamente salvar algo que não havia salvação. Seu terno antigo e favorito estava amarrotado em seu corpo magro e definhado e em seu rosto pálido se destacava as lágrimas frias e salgadas. Em cima da mesa estava o telefone ainda de décadas antes de sua época, ligado a um fone segurado pela mão quase sem forças para manter-lo estendido a altura de seu ouvido. Em sua outra mão, se encontrava o revolver frio e ainda virgem de sangue.

Sua voz ainda falava em alguns poucos intervalos de tempo dizendo falas sem

sentido para aqueles que não possuem um coração ferido e enrustido de dor. “Mas a eternidade não é algo que exista e às vezes, o amor não é recíproco” dizia a voz no outro lado da lin
ha um segundo antes de desligar o telefone. A voz dela era fria e gélida, como quem não se importasse com o que poderia acontecer a ele em seguida, e talvez ela realmente não se importasse. A leve e calma respirada dele foi o único som que se podia ouvir após o telefone ser desligado e jogado ao chão com tristeza oculta pela raiva que ele demonstrava. Em cima da mesa agora, só restava uma única bala, um único projétil quieto e silencioso que gritava na mente dele. Um copo de uísque preparado e tomado lentamente e em sua mão o projétil se encaixava em uma culatra do tambor, deixando as outras quatro vazias.

O som do tambor se fechando e sendo girado mal se era audível ao ouvidos que não queriam escutar mais nada. Seus olhos fixavam-se ao teto em quanto o tambor parava aos poucos de girar e sua mão estendia a arma lentamente. O cano deslizou sobre sua pele e seu rosto até a lateral de sua cabeça. O tambor parou, mas ele não queria saber onde o projétil se encontrava. Era o modo dele saber, se era a vida ou a morte a quem deveria obedecer. Era o modo de ele encontrar o fim, a paz, pois sabia que encontrar-la de ali em diante seria uma tarefa impossível de ser realizada por suas próprias mãos ou pelo seu coração. Fechou os olhos e respirou bem devagar sentindo o dedo deslizar pelo gatilho liso e frio. As mãos tremiam e as lágrimas desciam cada vez mais. A luz se tornava cada vez mais escassa e a temperatura parecia cair a cada lento segundo. Uma última lágrima tocou o chão e a arma fora disparada, para a vida ou para a morte.


Por Pedro Nunes Rodrigues